Friday, March 21, 2014

Titcher Gata

Na minha quadra tem duas faculdades. Consequentemente, na minha quadra, tem 8 botecos. Às dez da manhã os guris já estão espalhados pela calçada, fazendo a sua gloriosa gazeta (valei-me, Rubem Braga) e assim seguem pelo resto do dia, num rodízio por bares, mesas e calçadas.

Passo pela rua e um ou outro me cumprimenta: "Fala, Titcher".

Minha dúvida é se os alunos que me cumprimentam  (a) realmente acham que eu sou professora deles; (b) pensam que eu dou aula na outra faculdade; (c) ainda não foram pra aula este ano.

Aí hoje eu voltava do almoço e passei na frente das mesas do boteco:

"Aê, titcher gata"
"É por isto que eu vou pra escola"

Sensacional.





Thursday, March 13, 2014

Paulo Goulart


Assisti Paulo Goulart, de pertinho, na peça Evangelho Segundo Jesus Cristo, onde ele interpretava Deus - divinamente. 

Desde então, a minha imagem de Deus passou a ser alguém parecido com o Paulo Goulart. O porte, a gravidade, o gesto definitivo e, ao mesmo tempo, desprendido e, sem dúvida, aquela voz. Era a voz que Deus teria, se eu a ouvisse. 

Um ano mais tarde, a voz de Paulo Goulart abria o espetáculo A Bela e a Fera, do qual participei por dois anos. Era dele a narração que explicava como o jovem príncipe foi transformado numa fera horrenda. Por cerca de 600 sessões, no escuro da coxia, ouvimos a voz de Deus nos dando a deixa para entrar em cena e ir para a luz.

Vale aqui uma anedota, que desvia um pouco o assunto, mas não deixa de ser legal: uma conhecida que foi assistir A Bela e a Fera algumas vezes perguntou "E o Paulo Goulart, hein? Ele é legal? Ele não acha chato ir pro teatro toda noite só pra falar aquele começo?"*

*como não respondi na época, explico agora: querida, era uma gravação

E já que estamos nas anedotas, lembrei de outra (bem antiga): um grande violinista morreu e foi pro Céu. Lá chegando, foi imediatamente encaminhado para a Grande Orquestra do Céu. Quando olhou pro pódio, viu o Maestro Karajan e comentou com o músico ao seu lado: "Mas o maestro Karajan morreu?" e o músico respondeu: "Não, este aí é Deus. Ele PENSA que é Karajan."**

**esta piada tinha mais graça quando o Maestro Karajan era vivo

Toda esta divagação para desejar uma boa passagem a Paulo Goulart, artista criador, e agradecê-lo por todas as lembranças boas que nos deixou e pela inspiração que fica em nós.

E aí, quando chegar no Céu, imagino que Deus vai dizer: "Pô, Paulo, que bom que você chegou, me ensina aí a fazer esta voz que eu venho tentando imitar há uns 6000 anos". 

 

Paulo Goulart (1933-2014) <3

Monday, March 10, 2014

Habibi - dos encontros

No final de semana tive uma abençoada tarde preguiçosa e fui passar o tempo na livraria Hai Kai, na praça Vilaboim, no Higienópolis. Compro ali os meus cadernos de capa colorida, é um mundo para se perder, um caderno mais lindo que o outro, sempre oferecendo promessas de inspiração diante daquelas páginas com borda laminada, estampas de pavão, gatos, patchwork, uma perdição.

Um vendedor me viu olhando as histórias em quadrinhos e veio conversar comigo. Após uma rápida introdução, me sugeriu um livro enorme, "Habibi", de Craig Thompson, um tijolo de 700 páginas. Como não saí correndo, ele continuou a me contar a história do livro e porquê eu deveria lê-lo. 

Ao discorrer sobre os episódios do livro, Pedro - era o nome do vendedor  - estava perceptivelmente emocionado. Eu decidi: "Ok, vou levar" e ele, ao me entregar o pacote, disse: "Quando terminar, venha conversar sobre o que achou". 

E eu senti que o garoto, por doce que fosse, não estava me passando nenhuma cantada. Ele realmente queria compartilhar com alguém a experiência que aquele livro lhe proporcionou.


Bom, li o livro em 2 dias. É bonito, mesmo. 

Falo mais sobre ele num próximo post. Por enquanto, fica a minha gratidão ao Pedro, que o recomendou assim: "Este é o livro que você quer ler".