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Pra mulher é mais fácil. Porteiro gosta de
mulher. É só fazer amizade, jogar um sorrisinho... Consegue a chave do
apartamento, mole.
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Mas – interrompe uma jovem corretora - e se forem, tipo, duas mulheres?
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O que que tem?
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Qual ele escolhe? – ela quer saber.
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Não tem diferença – o gerente diz, com descaso -
Só ser mulher.
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Mas – ela insiste - e se for, tipo, eu e uma loirona, alta, magra?
Silêncio. Ela vira para um dos colegas:
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Se você fosse o porteiro e chegasse eu e uma
loirona alta, magra. Pra quem você dava a chave?
O
outro corretor dá um sorriso sem graça.
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Pra você.
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Mas aposto que o porteiro ia preferir a loirona.
Todos silenciam, concordando. Ela elabora:
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E se fosse uma gostosona? E se fosse, tipo, uma
mulher assim tipo eu e uma, tipo, a mulher-melancia? Pra quem você acha que ele
dava a chave?
O
gerente hesita.
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Pra gostosa?
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Tá vendo? Não é fácil! Não é fácil ser mulher.
Ela senta-se na mesa e esconde o rosto entre as mãos.
Constrangimento. Um colega se aproxima e põe a mão no seu ombro:
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Mas não fica assim. É só um porteiro.
(dedicado a Mila Fogaça)